Sempre que alguém decide fazer um reboot, remake, readaptação ou recaramba a quatro que seja cinematográfico, eu fico intrigado (embora as vezes empolgado). A dúvida que me vem em mente é: Há tão pouca visão e imaginação a ponto de precisarem estar sempre investindo em trabalhos que já são consagradas? O mesmo vale para filmes com 300 continuações, muitas vezes até desnecessárias. "Será que criatividade é o calcanhar de Aquiles de Hollywood?", me pergunto. Qualquer dia desses a gente chega à uma conclusão sobre isso, até lá, façamos nossas preces para que todas as readaptações do cinema sejam boas como O Agente da U.N.C.L.E (The Man From U.N.C.L.E).

  Baseado na série americana dos anos 60, a trama dirigida pelo excêntrico Guy Ritchie é vivida no período inicial da Guerra Fria. Napoleon Solo (Henry Cavill) e Illya Kuryakin (Armie Hammer) são agentes super secretos notavelmente habilidosos (e opoentes) que se unem com a missão de impedir uma organização criminosa de continuar proliferando armas nucleares pondo em risco a população. Ou seja, uma missão muito maior do que a própria rivalidade nutrida um pelo outro. Sendo a infiltração o único método viável de executar a operação em sigilo, eles precisam encontrar a filha de um cientista desaparecido com raízes na operação criminosa, Gaby Teller (Alicia Vikander), e correr contra o tempo para evitar uma catástrofe mundial.


"Para um agente especial, você não está tendo um dia muito especial. Está?"

  Algo que é muito necessário de se compreender é como funciona a cabeça do Guy Ritchie. O diretor britânico é conhecido por filmes com roteiros cheios de revira-voltas, edições de vídeo ousadas, trilhas sonoras impecáveis e decisões peculiares quanto à continuidade das sequências. Quem já assistiu a filmes como Snatch, Sherlock Holmes e Rock n' Rolla consegue entender com clareza a minha mensagem. Pois bem, seu mais recente trabalho é rico em todos esses artifícios 'ritchianos'. Isso sem citar a química do trio principal, que é perfeita (ou muito perto disso) tecnicamente falando. 

  O filme é inteligente, eletrizante, dramático, misterioso, engraçado, tenso e MUITO visual. Do tipo que se vale a pena gastar umas dilmas a mais para ver em IMAX. Em outras palavras, O Agente da U.N.C.L.E é tudo o que um filme de espionagem precisa ser. E se a criatividade/visão/imaginação de alguns diretores ficaram em questão na pergunta enfatizada logo no primeiro parágrafo, tirem o tio Ritchie dessa! Pois isso ele mostrou (mais uma vez) que tem de sobra.


NOTA : ★★
[ The Man from U.N.C.L.E / 2015 / Guy Ritchie ]

  Richard Linklater é um diretor/roteirista bem "aventureiro", se podemos colocar dessa forma. Em 2001, mesmo ano em que lançou nas telonas o extraordinário e único Waking Life, aventurou-se também na proposta de transmitir a experiência de uma peça teatral para os amantes do cinema com o filme Tape (ou Amargo Reencontro, em pobre tradução). Mas e aí? A experiência foi um sucesso, fracasso ou meio-termo? 

  Johhny (Robert Sean Leonard) e Vince (Ethan Hawke) são amigos de longa data que decidiram se reencontrar após muito tempo por uma questão de conveniência, uma vez que ambos estavam em sua terra natal. Johnny, agora um cineasta, demonstra um ar de superioridade ao tratar com Vince (que não fez "nada com a vida") mesmo aparentemente evitando. E em meio aos diálogos nostálgicos e de praxe sobre os velhos tempos, nasce o grande drama do longa: Amy (Uma Thurman), a garota com quem ambos namoraram. 

"Pessoas mudam. Eles acabam não tendo nada a dizer um ao outro , mesmo que eles fossem melhores amigos anos antes".

  Sendo bem honesto, Amargo Reencontro não passa tanto disso não, sabe? Digo, o filme conta com um roteiro intencionalmente meia-boca, uma produção simples (pseudo-amadora), um elenco de exatamente 3 atores, 1 hora e 26 minutos de duração e isso sem mencionar o fato do mesmo possuir um cenário único, que é o quartinho de hotel onde Vince está hospedado. Mas por quê fazer um filme com recursos tão escassos? Ah Ha! Essa é a grande questão...

  Acredito que grandes diretores, como Linklater, estão sempre propensos a toparem grandes desafios. O que o cineasta norte-americano viu na peça homônima de Stephen Belber foi a oportunidade de fazer algo igualmente intrigante para a tela do cinema. E conseguiu! Porque o que temos em 1 hora meia é um enfoque claríssimo nos diálogos, tamanha é a enfase que nos faz fazer parte daquele momento. Como se, de fato, tivéssemos quebrado a quarta parede entrado naquele quartinho. 

  O que para mim é fantástico perceber é justamente as decisões tomadas por Richard. Ele poderia ter feito algo muito maior com a aquela peça. Poderia ter dirigido um filme muito mais comercial sem fugir da essência da história. Porém, o que ele fez foi diminuir diversos recursos cinematográficos para que justamente olhássemos para o que resta: O Diálogo. Outro fato interessante é que assim como em sua trilogia de maior sucesso (Antes do Amanhecer), nos deparamos com várias sequências de conversa sem corte algum, dando um ar muito mais realista às cenas.

  Não trata-se de um filme fora de série, muito menos um must see. Mas Reencontro Amargo passa longe de ser um filme medíocre e sempre... Digo, SEMPRE vai encantar aqueles que amam o cinema por sua substância. 


NOTA : ★★★
[ Tape / 2001 / Richard Linklater ]

  Abençoado seja o dia em que David Mackenzie acordou inspirado e decidido a fazer essa película acontecer! Sentidos do Amor (ou Perfect Sense) ganhou seu espaço no Pratteleira por inúmeras razões e não sei se me farei claro ao dizer isso, mas ser um "bom filme" (tecnicamente falando) foi a menor delas.

"Há escuridão. Há luz. Há homens e mulheres. Há comida. Há restaurantes. Doenças. Há trabalho. Há trânsito. Os dias como nós conhecemos. O mundo como imaginamos".

  Susan (Evan Green) é uma epidemiologista plenamente dedicada à seu trabalho. Seus dias se resumem à estudar, avaliar e diagnosticar tudo o que diz respeito a epidemias (como o nome da profissão bem sugere) e, por conta disso, é justo dizer que sua rotina é cercada por morte e tragédia. Marcada por desilusões amorosas, Susan acaba por conhecer Michael (Ewan McGregor), um talentoso Chef de cozinha que também tem lá seus problemas nessa mesma área.

  Enquanto este primeiro lado da trama se desenrola de modo até bem ordinário, outro surpreende com o incomum: A população começa aos poucos a perder a capacidade de sentir cheiro. Precedida por uma súbita e temporária depressão, a perda do olfato se torna uma epidemia e obviamente o grande tema mundial. Cheiros que carregavam boas recordações, odores que alertavam quanto a riscos iminentes... Com o tempo tudo isso caiu no esquecimento e a humanidade, por ser adaptável (uma das ênfases do filme), seguiu em frente à sua maneira. Mal sabiam que o olfato era apenas o primeiro sentido a se despedir do mundo como nós conhecemos...

  Cada sentido que se extingue é precedido por uma expressão excessiva de alguma emoção por parte do portador da doença, como por exemplo a inexplicável melancolia que introduziu a perda do olfato ou a fome descontrolada que precedeu a perda do paladar. E minha nossa! Tais expressões proporcionam as sequências mais fascinantes da obra! É de emocionar mesmo. E sabe o que também emociona? A esperança no porvir que muitos são capazes de carregar. Pois em contraste com quem simplesmente prega que a epidemia trata-se da ira de Deus ou conspiração do governo, há também quem saia de casa para apreciar os sentidos que ainda lhe restam e dar atenção às pequenas belezas da vida. "A vida precisa continuar"...

  Quando eu chego no fim da crítica sem sequer citar o quão boas foram as atuações (embora TENHAM sido) ou comentar a respeito da direção, fica fácil entender o que eu quis dizer no primeiro parágrafo. Pois o que temos aqui é um filme que tem uma mensagem muito maior que o próprio filme. Um filme que consegue ser arrebatador em seu recado e calmo em sua abordagem... Em um mundo tão escasso de tato, gentileza e compaixão, Sentidos do Amor apresenta-e como um verdadeiro clássico contemporâneo... Um must see emergente... Um lembrete da humanidade que fazemos questão de nos esquecer... Um outdoor afirmando que o amor sim, é o Sentido Perfeito.

NOTA : ★★★
[ Perfect Sense / 2011 / David Mackenzie ]

  Quando me perguntam qual é o meu gênero preferido de filme, não exito em dar "Ficção Científica" como resposta. Uma pena que, ao responder, muitas vezes dou de ouvidos com comentários do tipo "Eu também. Amo Star Wars", "Exterminador do Futuro é massa". Hahahaha! Pois bem, eu até concordo com as duas afirmações exemplificadas, mas é que não é esse tipo de Sci-Fi ao qual me refiro. Ex Machina sim é o tipo de filme de Ficção Científica ao qual me refiro!

  Caleb Smith (interpretado por Domhnall Gleeson) é um programador do motor de busca mais usado do universo da trama, a Blue Book, e que foi supostamente sorteado para passar 7 dias numa mansão na ilustre companhia do CEO da empresa, o gênio Nathan Bateman (nada menos que Oscar Isaac). Ambientada de maneira isolada entre montanhas, a dita mansão tem um ar bastante claustrofóbico, eu diria. Um lugar propício para qualquer um literalmente pirar.

  O enredo fica interessante quando Nathan propõe a Caleb que ele seja voluntário em um teste a ser feito com seu mais recente projeto, um robô de inteligência artificial na persona da bela Ava (Alicia Vikander). A ideia do teste, na teoria, é proporcionar sessões de diálogos entre Caleb e Ava afim de identificar o quão aproximados da humanidade estão as características e raciocínio do androide. Mas nem tudo é o que parece... 

  Me fazem falta Sci-Fis onde se explora bem tanto a ficção como a ciência, uma vez que o rótulo é dado a qualquer filme de robôs, alienígenas e etc. Ex Machina é justamente tudo o que esses filmes não são: Um portal à um mundo de infinitas possibilidades dentro do contexto científico. Afinal, é dessas possibilidades e ideias que a ficção científica se trata. Que conversa de bêbado é essa? Trata-se de um conceito que há muito esmaecia e tem sido resgatado em alguns filmes, dentre os mais notáveis o Interestelar: A inquietude mental causada pelo verdadeiro Sci-Fi

  Ex Machina impressiona também por inflamar em seu emocional uma fagulha de suspense que será carregada até os minutos finais. A paranoia que se sente devido a pseudo-paz que a filmagem e cenário proporcionam perturba a ponto de causar um desconforto real. E isso tudo sem mencionar as atuações formidáveis de Alicia e Oscar Isaac (como sempre), embora Domhnall tenha feito sua parte também de maneira mais discreta. 

  E após pouco menos que 2 horas, começa a segunda parte do longa-metragem: A reflexão que Alex Garland (diretor) te proporciona. Tantas perguntas e tantos pontos relevantes a se pensar que é quase impossível fazer uma resenha dessa sem querer dar spoilers! Hahaha... Quando após a tela preta final debater sobre o filme é uma necessidade, amigos, tenham certeza de uma coisa: O que vocês assistiram é, numa perspectiva pessoal ou até global, atemporal.


NOTA : ★★
[ Ex Machina / 2015 / Alex Garland ]


  O Pratteleira, para a sua satisfação, volta das férias com o compromisso de muitas novidades e mudanças. Porém, algo que não é nada novo e nunca vai mudar são as resenhas e críticas do Blog! A bola da vez é o Busca Alucinante (Pawn Shop Chronicles). O filme de Wayne Kramer nada mais é que uma "colcha de retalhos" que conecta 3 tramas surreais à uma Loja de Penhores (Pawn Shop) local de uma maneira engraçada, tensa e eletrizante!

  Uma pequeno loja de penhores é o grande ponto de partida para as 3 histórias citadas acima.. Interessante observar que as 3 histórias poderiam muito bem serem chamadas de causos, uma vez que a natureza da trama e da loja é caipira. No primeiro causo, este cômico, pilantras drogados bolam um plano (muito mal bolado, por sinal) e seguem numa busca alucinante para saquear toda a grana de seu fornecedor de drogas. No segundo, este dramático, um homem ao reencontrar a aliança perdida de sua supostamente falecida ex-mulher segue em uma busca alucinante para desvendar o mistério de seu desaparecimento. Já no terceiro, este mais melancólico, um aspirante a Elvis Presley trilha sua busca alucinante pelo estrelato, quando recebe uma indecorosa proposta que pode mudar a sua vida... 

  Além de ter um elenco estreladíssimo e um roteiro um tanto "tarantinista", o filme conta com caipiras, anões, palhaços, barbeiros e psicopatas dentro de um universo que só uma mente perturbada criaria. O grande barato disso tudo é que apesar das histórias se cruzarem em certos momentos, elas são auto-suficientes em seu seio. Isto é, uma história não precisaria da outra para ser completa. Busca Alucinante é também um dos últimos filmes estrelados por Paul Walker, e se permitem a observação... Quem dera atuações como essa tivessem marcado a carreira do ator ao invés da franquia milionária! 

  Bom... O filme tem suas falhas? Tem. Foi mal recebido pela crítica? Também. Tinha potencial para ser bem melhor? De fato. Mas para quem curte uma bizarrice que não peca em originalidade (Guilty!), essa é a pedida ideal!


NOTA : ★★★
[ Pawn Shop Chronicles / 2013 / Wayne Kramer ]

  "No lugar certo, na hora certa e com a pessoa errada". Mas será mesmo que existe tal coisa como uma "pessoa errada"? O filme de Ben Palmer propõe uma comédia romântica que combina o bobo e atrapalhado de sempre com o intimista e inspirativo de quase nunca. Man Up (ainda sem título no Brasil) é mais um bom filme de 2015, do tipo que não impressiona mas também passa longe de decepcionar a platéia, seja ela qual for. 

  O filme gira em torno de Nancy (Lake Bell), sua falta de jeito com relacionamentos e sua má vontade para com o romance. Tímida e visivelmente "mordida", Nancy tem cravado em sua mente que já não serve para encontros e toda a supostamente frívola empolgação de uma nova paixão... E, se quer saber, ela parecia mesmo saber do que falava e estar segura do que defendia. Mas então, na estação de trem, Jack aconteceu.

  Jack (Simon Pegg), convenientemente, tinha um encontro às cegas naquela estação. Ele deveria encontrar-se com Jessica, uma triatleta de 24 anos que era teoricamente o seu par perfeito. Mas a verdade é que o destino tinha outros planos para Jack. Pois ao confundir seu par com uma mulher 10 anos mais velha e com interesses bem diferentes, Nancy aconteceu.

  A partir daí, os dois seguem o rumo das grandes comédias românticas da maneira mais britânica possível. Digo... Jack e Nancy? O que esperar quando os protagonistas já tem nomes de casal clichê? Ele tem seu passado. Ela tem seus surtos. Ele é inseguro. Ela tem teorias sobre sexo. Ele cita falas do filme Wall Street. Ela não conta que, na verdade, está se passando por outra pessoa. Essas coisas de todos os relacionamentos, sabe? Hahaha. De qualquer forma, só existe aqui uma história para ser contada porque, em dado momento, alguém decidiu arriscar. Alguém decidiu se fazer disposto ao desconhecido.

  Há quem diga que Simon Pegg é o mago das comédias britânicas. E em minha opinião, é mesmo! Mas Lake Bell é quem rouba a cena e toma posse de quase todo o lado excêntrico da trama. A trilha sonora, como em 100% dos filmes com o Simon (não por coincidência, ele sempre mete o bedelho), está MUITO boa! Man Up, disfarçado em risos despretensiosos, deixa uma mensagem pra lá de pretensiosa: Ser cínico em relação ao amor é fácil, pois o amor que vale a pena nem sempre está no trabalho, vizinhança ou circulo de amizade. As vezes, ele é mesmo um unicórnio, porém real... E só recompensa quem dá a cara a tapa.


NOTA : ★★★½
[ Man Up / 2015 / Ben Palmer ]







  Obrigado, George Miller! Obrigado por presentear os fãs da trilogia. Obrigado por levar "ação" ao pé da letra. Obrigado por não corromper uma das séries de filmes mais fantásticas do cinema. Obrigado, George Miller, por Mad Max: Fury Road (Mad Max: Estrada da Fúria).

"Meu nome é Max. Meu mundo se resume à um único instinto: Sobrevivência. A medida que o mundo cai fica difícil saber quem é mais louco. Eu... Ou todos os outros".


  O longa é iniciado com uma sinistra narrativa de Max (Tom Hardy) que, assombrado por seus fracassos e pessoas que deixou pelo caminho, tenta trilhar seu caminho solitário. Nesse eletrizante sequel, um grupo de fuga liderado por Furiosa (Charlize Teron linda até careca) precisa contar com a ajuda do anti-herói para abandonar o povoado tiranizado por Immortan Joe e seu exército kamikaze. 

  O excelente trailer de Mad Max: Fury Road não mostra quase nada do filme, mas mostra tudo o que se esperar dele! O filme, salvo algumas cenas (lógico), praticamente NÃO PARA! São 2 horas de adrenalina... Explosões, perseguições de tirar o fôlego, corpos voando e tudo dentro de um contexto que se encaixa com todo. Miller foi desafiador o suficiente pra propôr uma trama com quase nada de enredo para dar continuação à um intocável clássico. O que poderia ser um vergonhoso fracasso foi um absoluto sucesso. A unanimidade nas críticas não vão me deixar mentir. Outro ponto interessante de Mad Max é ele estar sim ligado aos três anteriores, mas de uma forma que não compromete a compreensão de quem infelizmente não os assistiu. 

  Concluindo... O cenário é fantástico. Fotografia e efeitos visuais de aplaudir de pé. Tom Hardy surtadíssimo no papel de Max, tal como Mel Gibson na trilogia. Charlize Teron é a alma e coração da trama. Excelente performance! O War Rig (Carro de Guerra) é espetacular e, preciso enfatizar isso: 80% das cenas do filme são gravadas no deserto sem efeitos especiais! Hahaha parece mentira! Assista e confirme com seus próprios olhos minha avaliação do filme que é forte candidato a ser o melhor dos blockbusters de 2015. 


NOTA : ★★★★½
[ Mad Max: Fury Road / 2015 / George Miller ]


  Quando uma comédia romântica tem como protagonistas o clássico galã e a típica desastrada, tem como cenário a bela cidade de Nova York e como título Encontros & Desencontros do Amor, é mais que lícito imaginar "Esse filme definitivamente não vai me surpreender". E não surpreenderia mesmo se não fosse pelo simples fato de que a ideia do filme é justamente satirizar o gênero. Ou seja, uma paródia de comédias românticas.

  Paul Rudd é Joel, um executivo de uma corporação de doces que ameaça destruir a pequena doceria de Molly (Amy Poehler). Ambos se conhecem por por acidente a caminho de uma festa onde foram convidados e vestindo, por coincidência, a mesma fantasia! Até parece um clichê romântico. Só falta mesmo eles se odiarem à primeira vista. Aliás... Esquece. Isso também acontece.

  Do diretor e roteirista David Wain (de Role Models - Faça o que eu digo, Não faça o que eu faço), Encontros & Desencontros do Amor (They Came Together) diverte por ser uma narrativa absurda e intencionalmente clichê. A maneira com que a previsibilidade toma uma proporção exagerada e ridícula é realmente hilária em diversas cenas da trama. 

  Tendo pouco mais que 1 hora de filme, Encontros & Desencontros do Amor não é nada marcante ou digno de uma crítica notável, mas é engraçado e ousado o suficiente para valer a sua conferida. 

NOTA : ★★½
[ They Came Together / 2014 / David Wain ]

  O que muda em 10 anos? O que é modificado na vida de alguém durante uma década após a formatura do Ensino Médio? A olho nu, esse é o grande questionamento da comédia dramática e romântica de Jamie Linden. Com um estrelado elenco, 10 years (10 anos de Pura Amizade) traz em seu miolo reflexões que podem passar desapercebidas devido ao estilo despretensioso do filme.

  Um grupo de amigos decide se reunir por uma noite e relembrar da época de colegial, reencontrar velhos amigos e se divertir juntos uma vez mais. A nostalgia é o grande elemento da trama e, se quer saber, não poderia ser diferente com essa temática. Impossível acompanhar a sequência sem ficar um tanto saudosista.

  Num ritmo bem leve o filme nos guia através dos personagens e nos permite conhecer um pouco de cada um, de forma que somos apresentados não somente ao que são mas ao que costumavam ser. Tínhamos Jake (Channing Tatum) e Mary (Rosario Dawson) como o notável casal do ensino médio, Cully (Chris Pratt) como o popular valentão, Reeves (Oscar Isaac) como o romântico incurável, Marty (Justin Long) no papel do playboy mulherengo, e por aí vai... O grande barato é notar que que embora muito tenha mudado, outro tanto não mudou nada. A batalha de egos ainda estava ali. A amizade ainda estava ali. A insegurança ainda estava ali. E para a surpresa de Jake ao reencontrar Mary, algo mais ainda estava ali...

  Um roteiro que pode muito bem ser classificado como "nada demais" seguindo em um passo monótono. Surpreendentemente, o filme funciona demais. Ótima pedida para um domingão sem compromisso... Dar o play e relaxar. 10 Anos de Pura Amizade se importa em passar uma mensagem muito maior do que o que aparenta. A pergunta que deveria ser feita, nesse caso, seria: O que NÃO muda em 10 anos?

"Por que gastar seu tempo olhando para trás quando há tanto para se olhar pra frente?"

NOTA : ★★★
[ 10 Years / 2011 / Jamie Linden ]

  "O que a Scanner vê? Dentro da cabeça? Dentro do coração? Ela vê dentro de mim? Claramente? Obscuramente?"

  Com o pano de fundo 'fictício' chamado de 7 anos a partir de agora, o completa e agressivamente monitorado por câmeras E.U.A é vencido na luta contra as drogas. Batalha essa perdida principalmente para a tal substância D, droga popular causadora de alucinações e responsável por degradação gradativa do cérebro do usuário. E é dentro dessa escaneada realidade que Scanner Darkly (O Homem Duplo) nos é apresentado por Richard Linklater.

  Bob Arctor (Keanu Reeves) é um dos agentes ao combate do narcotráfico escolhidos para a função de 'policial disfarçado'. Para isso, ele tem de se sujeitar ao uso de um traje especial que combina partes (olho, boca, braço, peito...) diferentes de 1.500 pessoas de forma aleatória e interrupta. Enquanto investiga de perto a vida de seus amigos adictos, Arctor se vê cada vez mais confuso e sequelado pela droga, já que o mesmo foi "obrigado" a fazer uso da mesma para a investigação.

  "Eu espero que ela veja claramente, porque eu mesmo já não consigo me ver internamente. Só vejo escuridão. Espero que, para o bem de todos, as scanners possam ver melhor. Porque se a scanner só vê obscuramente como eu vejo, então estou amaldiçoado e amaldiçoado novamente".

  Richard Linklater, diretor consagrado pela trilogia de Antes do Amanhecer e famoso pelo recente Boyhood, usa e abusa de um dos seus artifícios mais característicos: Filosofias interessantes em diálogos banais. Quem assistiu um tanto de seu trabalho sabe bem do que estou falando e de como Linklater é forte com essa proposta. Outro artifício que é repetido pelo cineasta norte-americano é o uso do interpolated rotoscope, técnica que transforma em animação um vídeo previamente gravado em Live Action, preservando as expressões faciais dos atores. O efeito só vem à acrescentar à proposta alucinógena do filme, caindo muito bem nas impagáveis atuações dos coadjuvantes Robert Downey Jr, Woody Harrelson, Rory Cochrane e Winona Ryder.

  O filme, além de muito divertido e com atuações igualmente divertidas, acumula uma pilha de críticas sérias. Tendo como principais alvos as próprias drogas e a parcela de culpa do governo americano nessa "epidemia". Na verdade, os minutos finais da adaptação é que a tornam muito mais que só mais um filme. O Homem Duplo lida com uma população monitorada por quem se propõe a proteger, maltratada por quem se propõe a cuidar e passiva quando deveria agir. Haha! E chamam isso de ficção...

  "Só vou acabar morto desse jeito. Sabendo muito pouco e ainda entendendo esse muito pouco equivocadamente".

NOTA : ★★★★
[ A Scanner Darkly / 2006 / Richard Linklater ]

  E então, finalmente, após toda a espera e o hype recebido posso dizer que tenho meu veredicto: Estou um pouquinho decepcionado com "Os Vingadores 2". Mas calma! Talvez eu tenha criado demasiadas expectativas. Afinal, gostei bastante do filme e mesmo com a longa duração não o achei em nada cansativo. Porém, eu seria um cego culpado se dissesse que que não senti falta de alguma coisa...

  A história toda é resumida ao seguinte: Tony Stark (Robert Downey Jr.) em sua busca egocêntrica pela construção de um sistema de inteligência artificial que "garanta" a paz mundial, acaba sendo direta ou indiretamente responsável pelo nascimento do vilanesco e poderoso Ultron (muito bem dublado por James Spader). Os vingadores precisam mais uma vez trabalhar em equipe e até contar com alianças inesperadas para salvar o planeta. Até aqui, uma sinopse comum com muita margem para ser trabalhada em cima. O problema é que para por aí.

  Divertidíssimo! Consegue ser ainda mais divertido/cômico que o 1. Novamente com ótimas atuações do elenco principal e, dessa vez, algo diferente em relação ao primeiro filme: Todos os avengers tem seu destaque. Participações muito notáveis de Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) na trama, inclusive. E como esperado, um show visual! A direção das cenas de combate continuam muito boas. A maneira que a câmera vai te apresentando as batalhas individuais de cada vingador como uma espécie de "tour" é particularmente incrível, faz com que você não queira sequer piscar.

  Se o filme é tudo isso, qual o lado ruim? Não passar disso. Dessa vez, parecia que teríamos um filme relevante não só dentro do cenário dos HQs, mas do cinema em geral. E não foi isso o que aconteceu. Tanto para se ver e tão pouco para se pensar... A magnitude gráfica e o excesso de grandes (e atropelados) eventos acabam sugando todo o oxigênio do filme, sobrando quase nada para os momentos menores e o conteúdo inteligente que considero necessário. Agora era a hora de acrescentar, de inovar... De evoluir! Por exemplo, se você parar para pensar o filme lida outra vez com evacuação da cidade e lutra contra um exército genérico que ninguém dá a mínima. E isso, tenho que dizer, achei um tanto preguiçoso da parte do Sr. Whedon. Resumindo: Vi muito do que poderia ser expressivo e pouco do que foi de fato.

  De qualquer forma, "Avengers: Age of Ultron" vai agradar a grande maioria assim como me agradou. Outra coisa bem empolgante é que é aberta uma margem para as próximas sequências da Marvel. Então, fica para o fã dos HQs a dica de se preparar para mais do mesmo. Fica para a Marvel a expectativa de anos promissores. Fica para mim o aprendizado de que não se deve esperar um excelente filme do que só se propõe a ser um excelente blockbuster.


NOTA : ★★★½
[
 Avengers: Age of Ultron / 2015 / Joss Whedon ]

  "Se você não consegue rir de si mesmo, a vida será bem mais longa do que você gostaria".

  Hora de Voltar (Garden State) foi um filme que certamente marcou o ano de 2004. Pode-se dizer que o mesmo deu uma "nova cara" à um gênero que apesar de já existir não havia sido explorado no cinema da maneira que deveria, a Comédia Dramática. Essa junção da comovente e devastadora tragédia com o aconchegante bom humor pode não dar tão certo se não for elaborada com suficiente sensibilidade. O que não foi MESMO o caso na estréia de Zach Braff 
(que até então, só conhecido como o J.D do sitcom Scrubscomo diretor.

  Além de diretor e roteirista, Braff interpreta o introspectivo Andrew Largeman, um aspirante a ator que vive em Los Angeles. Logo no início, vemos que Andrew faz uso de uma infinidade de remédios controlados e, talvez por efeito colateral, é altamente melancólico e introspectivo. Em outras palavras, não precisa assistir muito do filme para perceber que o personagem tem "trauma" estampado em sua testa.


  O drama se desenvolve ainda em sua introdução, quando Andrew recebe uma mensagem de voz de seu pai Gideon Largeman. Na mensagem, Gideon lamenta não ver o filho há anos, reclama por ele não retornar suas ligações nunca e, claro... Diz que sua mãe morreu. 

  Para comparecer ao funeral, Andrew volta à sua terra natal: Nova Jersey (Que é "apelidada" de Garden State, por isso o nome do filme). Estar de novo em casa, reencontrar velhos amigos, lidar com fantasmas do passado e conhecer Sam (Natalie Portman), uma garota tão sequelada quanto ele, faz Andrew repensar a maneira que tem vivido os últimos "anestesiados" anos de sua vida e como deveria ser muito mais do que isso. 

  Temos vários exemplos de atores que se dão bem dirigindo e atuando em seu próprio filme, mas o que Zach Braff fez foi genuinamente notável! Pois embora a vida de Andrew talvez seja uma realidade bem distante de uma esmagadora maioria, seus ensinamentos assistem a todos. o título brasileiro "Hora de Voltar" implica muito mais que a hora de Andrew voltar à sua terra natal, mas a hora de voltar a viver. De abandonar os "medicamentos" que nos retardam, deixar para trás as inseguranças e corajosamente explorar esse abismo que é a vida...


NOTA : ★★★★
[ Garden State / 2004 / Zach Braff ]

  Sou louco por futebol e cinema desde que consigo me lembrar. Sendo o mais franco possível, não tenho lembranças de alguma época em que não tenha sido apaixonado por ambos. Então você, leitor do Pratteleira, vai me perdoar se eu parecer um tanto exaltado ou demasiadamente emotivo ao falar desse filme que une minhas duas maiores paixões.

  Todo fanático por futebol já deve ter ouvido diversas vezes, em tom desagradável, a seguinte afirmação: "É só um jogo!". Logo, não era diferente para o professor de inglês Paul Ashworth (Colin Firth), ou como provavelmente ele preferiria ser identificado, gooner Paul Ashworth. A adaptação do aclamadíssimo livro homônimo de Nick Hornby trata sobre a vida de Paul e não apenas sua devoção ao Arsenal Football Club, mas a maneira em que tudo em sua vida era sintetizado em futebol e suas emoções direta ou indiretamente associadas ao desempenho da equipe londrina.

"Depois de um tempo você passa a ficar confuso. Você não consegue lembrar se a vida é uma merda porque o Arsenal é uma merda ou se é o contrário"

  O filme intercala cenas da infância de Paul, onde o mesmo encontrou na paixão pelo Arsenal um elo com seu pai (divorciado de sua mãe), com cenas "atuais" do protagonista. Lógico, o desiludido professor não espera muito da vida e, se quer saber, a mensagem passada é que é "culpa" do até então conhecido como "Boring Arsenal". Pois uma vez que tudo o que ele vivia era uma espécie de reflexo do que acontecia dentro das quatro linhas do Highbury (na época, estádio dos Gunners), não se podia esperar muita coisa mesmo. Sem grandes perspectivas, ambições ou notáveis alegrias, tal como seu time, Paul segue sua apática vida... Isso até conhecer Sarah (Ruth Gemmell) e, na mesma temporada, acompanhar uma das melhores campanhas do Arsenal em anos! Sua vida ali mudaria... E ele mal sabia.

  Já dá para ter uma noção do conflito que se encaminha na trama? Paul, que até então não tinha preocupações maiores que "Qual a escalação hoje?" e não fazia planos maiores que "Quais os jogos fora de casa que assistirei nessa temporada?", tinha agora que abrir espaço para mais uma paixão em sua vida e com alguém que não fazia ideia do que é ser doente por futebol... Qualquer informação que vá além disso pode ser considerara um spoiler e, por conta disso, encerro aqui minha sinopse.

   Para qualquer amante do futebol, o grande trunfo do filme não é nem de longe a trama... Mas sim a capacidade de fazer com que o mesmo se sinta compreendido. A forma com que Paul conta o tempo não em anos, mas em temporadas. O ímpeto em entrar em debates longos sobre o esporte. O quão ridículo parece ponderar optar por algum outro programa em dia de jogo. A necessidade em ter conhecimento a respeito de cada fato sobre seu time... Sinto que tudo isso é como se alguém finalmente tivesse colocado um grande anúncio, para o mundo inteiro ver, avisando que NÃO é só um jogo, que NÃO importa se os jogadores não nos conhecem e estão ganhando seus milhões, que NÃO estamos tristes/desvatados por bobagem... Avisando que futebol importa... Que é parte do que somos e só tem alicerce para julgar isso quem vive.

  A obra de David Evans te faz refletir na seguinte questão: A tal "Febre de Bola" é uma dádiva ou uma doença? E para os que esperam uma resposta eu digo o que para os de dentro é mais que óbvio, mas para os de fora é absurdo: Os dois. Uma ingrata e maldita dádiva , uma bela e bendita doença.


NOTA : ★★★½
[ Fever Pitch / 1997 / David Evans ]  

  Tiroteios, manobras questionáveis, máfia russa, vingança e, é claro, Keanu Reeves usando preto. Tudo muito irado, né? Né. Mas calma... Tá faltando algo, não? Cadê o enredo bem elaborado e plot twists de John Wick (De Volta ao Jogo)?

  Interpretando o 6º "John" de sua carreira, com seu novo filme Keanu Reeves rouba a cena em Hollywood aparecendo como o rosto da nova fase dos Revenge Flicks (Filmes de ação onde o protagonista é obcecado por vingança). E quando falo em "nova fase", é porque sinto que o cinema está realmente mudando. E isso pode/deve ser bom...

  John Wick é um ex-matador de aluguel (mercenário, hitman, sirva-se...) absurdamente temido em Nova York que passa por uma dura perda: A de sua esposa. A mesma, em seus últimos dias, dizia estar em paz e para que John não atravessasse o luto sozinho, o presenteou com um cachorro. Dias após a morte de sua mulher, assaltantes invadem a casa de John, roubam seu carro e matam seu cachorro (que já cheirava à morte desde o primeiro segundo em que apareceu). Voltando a ativa, Sr. Wick se vê obcecado por vingança quando descobre que os assaltantes estavam associados aos russos para quem ele costumava trabalhar. Rááá!!! Dá para ser mais clichê que isso? Dá! Esqueci de dizer que o filme começa com o clássico despertador tocando e o protagonista batendo a mão em cima para desligar. Hahahaha

  Eu tinha todos os motivos do mundo para desgostar do filme, mas não consegui. Cenas de combate totalmente novas e a trilha sonora... Ah, a trilha sonora... Ela é sensacional. Além de perfeitamente aliada às cenas de pancadaria e tiroteio (lê-se extermínio), pode ser considerada um show à parte. Django Livre, Gangster Squad e até mesmo o aclamadíssimo Drive estão aí para mostrar que Revenge Flicks não precisam ter um enredo acima da média para conquistarem a platéia e até mesmo a crítica. Tudo o que eles precisam é envolver à sua maneira. E isso, o filme de David Leitch e Chad Stahelski faz absolutamente bem.

  Tendo esclarecido que o título dessa crítica em nada é irônico, gostaria de destacar como me alegra quando um filme sendo clichê consegue se renovar e, com isso, inovar no gênero. Encerro minha resenha com a seguinte frase: John Wick: Sem enredo, sem surpresas, sem grandes atuações e, apesar de tudo isso, sem chances de desagradar.


NOTA : ★★★½
[ John Wick / 2014 / David Leitch & Chad Stahelski ]

  Vamos deixar algumas coisas claras: Sou fã do Oscar Isaac sim! Acho ele extremamente talentoso sim! E sou intrigado com a má vontade da Academia para com ele sim! Pronto. Agora sigamos com a crítica de "O Ano Mais Violento (A Most Violent Year)", de JC Chandor.
obs: Guatemalteco, para os desinformados, é quem nasce na Guatemala. E eu nem tive que buscar no google. Juro que não.


  O filme se passa em Nova York no ano de 1981, vulgo o ano mais violento da cidade já registrado. Abel Morales (Oscar Isaac) é um ganancioso e bem sucedido comerciante de combustível que, em pouquíssimo espaço de tempo, conseguiu conquistar muito mais do que qualquer um em seu ramo poderia imaginar. E apesar do termo "ganancioso" ter uma conotação toda pejorativa, Sr. Morales é um homem íntegro, trabalhador e muito honesto em tudo - ou quase tudo - o que faz.

"Você precisa saber que eu sempre escolhi o caminho mais correto. O resultado nunca está em questão para mim. Apenas o caminho que se escolhe para chegar até ele, e sempre existe um que é o mais correto".

  O longa-metragem fica interessante já no início, quando um de seus funcionários é tirado a força (à base da porrada mesmo!) de um dos caminhões carregados de combustível da companhia. Não sendo essa a primeira - e certamente não a última - ameaça aos seus negócios, cada vez mais pressionado por sua esposa Anna (Jessica Chastain) a tomar uma atitude mais "agressiva", Morales se vê no momento mais delicado de sua vida. As coisas não poderiam permanecer como estavam...

  Fiquei impressionado com a química entre Oscar Isaac e Jessica Chastain. Os dois atuaram maravilhosamente bem e Chastain mais uma vez não nos decepcionou. Já Oscar foi brilhante em cada aspecto da palavra. Por exemplo, ego enorme era a maior das características de seu personagem e JC Chandor nem precisou bater tanto nessa tecla, pois o protagonista foi capaz de inserir isso nas entrelinhas de forma sutil e competente. Digo mais... Muito dos comentários positivos que o filme recebeu se deve à essa dupla de atores que estão numa ascensão, digamos que... Meteórica!

  Muito bem dirigido e fotografado, o filme chegou a ser citado como um filme "soft gangster", por sua proximidade dos filmes de máfia num contexto geral e distância quando se tem como comparativo a violência (apesar do nome). Um drama cheio de diálogos marcantes, cenas marcantes e como já falado, atuações marcantes... Seria uma pena se chegasse uma suposta biografia meia-boca de um sniper e roubasse a cena por causa do colossal ego norte-americano. Er... Então... Recomendo demais O Ano Mais Violento e que se dane a Academia!

NOTA : ★★★
[ A Most Violent Year / 2014 / JC Chandor ]

  Hoje acordei sem lembrar ao certo se assisti à um filme ou se sonhei com um filme. "Que viagem..." foi o pensamento predominante durante o banho, café e indo para a aula, enquanto lembrava das sequências dirigidas por Paul Thomas Anderson. Mas foi fazendo o caminho de volta que me convenci não somente do que havia acontecido como um todo, mas de que eu precisava de mais uma dose. Mais uma dose de Vício Inerente

  Podemos dizer que o mais recente trabalho do visionário e peculiar diretor tem, assim como direções prévias do mesmo, um ritmo que não vai agradar gregos e troianos. Afinal, não é todo mundo que gosta de filmes "paradões" (numa linguagem mais desacatada). Não é verdade? 

  A adaptação do livro homônimo de Thoman Pynchon acontece numa Los Angeles setentista e inicia-se numa cena onde o detetive particular - e chapado de carteirinha - Doc Sportello (Joaquin Phoenix) é surpreendido com a visita de sua ex-namorada Shasta, a qual o mesmo não via há mais de um ano. E com um olhar que gritava "saudade", Shasta explica que tem saído com um cara casado. Sendo mais preciso, um milionário chamado Mickey Wolfmann. E que o mesmo estava prestes a ser vítima de um sequestro com o intuito de interná-lo num manicômio, por sua própria esposa (a qual aceitava pacificamente o caso dos dois). E então, eis a grande dúvida na qual Shasta precisava da ajuda do anti-herói Sportello: Deveria ela se unir à esposa de Mickey e desfrutar da fortuna? 

  Daí pra frente a história vai se esclarecendo, não é? Errado. Nas 2 horas seguintes de investigação e mal-entendidos a trama só se enrola. Personagens e mais personagens nos são apresentados num ritmo monótono em um cenário alucinógeno (talvez devido a brisa por osmose de tanto que o protagonista fuma baseado em cena). Você está certo de que não deve estar entendendo tudo muito bem, mas entende que deve está tudo certo. Ãn? Em outras palavras, não se preocupe em entender cada detalhe do desenrolar da história, pois tenho convicção de que a oferta do filme é a tal "viagem" e não o entendimento. 

  Divertido, psicodélico e cheio de atuações marcantes (como de praxe nas películas dirigidas por PTA), o filme traz esse efeito gradativo na avaliação de quem o assiste. Melhorado à cada reflexão. Sabe aquela viagem que você fez ou experiência que viveu e apenas tempos depois se dá conta de que ela foi fantástica? Vício Inerente é essa viagem que só vai saber aproveitá-la quem desistir de digeri-lo à cada diálogo e, despreocupada e simplesmente, viver o momento.

NOTA : ★★★
[ Inherent Vice / 2014 / Paul Thomas Anderson ]

  Conhecido como o diretor mais "cool" do cinema contemporâneo, Wes Anderson está numa crescente considerável e caindo de vez nas graças da crítica. Eu, que há pouco tempo atrás só conhecia o excelente Moonrise Kingdom, passei a ver mais do seu trabalho desde o sucesso do igualmente interessante O Grande Hotel Budapeste. Pois bem, dentre todos os seus trabalhos por mim já visto, uma adaptação me chamou a atenção em especial, esta foi: O Fantástico Sr. Raposo.

  A trama conta a história de uma 'família raposa' vivendo em meio a civilização selvagem, ou cidadãos da floresta, Ah... Sei lá. O que sei é que tudo acontece numa realidade alternativa onde alguns animais selvagens (lê-se, neste caso, raposas, gambás, texugos, castores, esquilos e etc) vivem de maneira civilizada e falam inglês como qualquer outro americano. Tendo assim em relação aos humanos, a mesma responsabilidade de educar os filhos, a mesma preocupação em pagar as contas e pôr comida dentro de casa, o mesmo ego ferido quando subestimados e, curiosamente, a mesma necessidade de ser/fazer algo mais na vida além de "só" sobreviver. E é nesse choque do que era para ser ficção com a realidade em que vivemos que os personagens ganham vida!

  O protagonista, Sr. Raposo (maravilhosamente dublado por George Clooney), é pego desprevenido por uma crise existencial 12 anos após descobrir que seria pai. Não que ser um pai de família estivesse sendo um fardo ou coisa do tipo. Mas é que a vida monótona sem correria, adrenalina e furto já não era satisfatória para os instintos selvagens naturais de 'Mr. Fox'. 

  "Por quê uma raposa? Por quê não um cavalo, ou um besouro, ou uma águia americana? Eu estou dizendo isso mais como... Existencialismo, sabe? Quem sou eu? E como uma raposa pode ser plenamente feliz sem, perdoe o vocabulário, uma galinha entre os dentes?" (Sr. Raposo em desabafo para seu amigo Kylie, o gambá).

  Mas aí a pergunta: Por quê não voltar a roubar como todas as outras raposas? Eis o problema. Há 12 anos atrás, a beira de ser capturado juntamente a sua grávida esposa Sra. Raposa (dublada por nada menos que Meryl Streep), Sr. Raposo lhe havia feito uma promessa, a qual consistia em mudar de vida e nunca mais roubar de novo caso eles escapassem da armadilha na qual estavam presos. Hahahaha! E aí, já deu pra prever o que vai acontecer? Talvez até dê para prever uma coisa ou outra. Mas dou minha palavra que a maneira com que tudo acontece é ainda mais fantástica que o nosso protagonista.

  Seja pela peculiaridade no desenvolvimento dos diálogos, pelo humor non-sense na medida certa ou pelo aspecto familiar do drama que alguns personagens supostamente fictícios vivem, Wes Anderson consegue te fazer desejar que o filme não chegue ao fim. E isso, lógico... Sem tirar mérito algum de toda a equipe de produção envolvida e o excelente trabalho de dublagem feito por Owen Wilson, Willem Dafoe, Bill Murray, Wallace Wolodarsky e etc fora os já citados nos parágrafos superiores. Mas quando se tem certeza de que a captura de sentimentos dificílimos de se produzir numa animação de bonecos, ousadia nas sequências e, de forma geral, a VIDA implantada no filme tem a mão do diretor, não há outra escolha senão se render à ele, assim como fizeram tantos outros críticos, atores e cinéfilos.

  Enfim... O que posso dizer é: Assista ao O Fantástico Sr. Raposo e renda-se você também ao Fantástico Wes Anderson!!!


NOTA : ★★★★
[ The Fantastic Mr. Fox / 2009 / Wes Anderson ]

  Quem vigiará os vigilantes? A pergunta nos leva a uma reflexão improvável. Pois uma vez que os vigilantes (Watchmen) são os responsáveis por ficarem de olho na nação para que o crime e a corrupção não prevaleçam, quem ficará de olho neles quando os mesmos forem os grandes corruptos? Quem os vigiará?