Febre de Bola: ★★★½

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  Sou louco por futebol e cinema desde que consigo me lembrar. Sendo o mais franco possível, não tenho lembranças de alguma época em que não tenha sido apaixonado por ambos. Então você, leitor do Pratteleira, vai me perdoar se eu parecer um tanto exaltado ou demasiadamente emotivo ao falar desse filme que une minhas duas maiores paixões.

  Todo fanático por futebol já deve ter ouvido diversas vezes, em tom desagradável, a seguinte afirmação: "É só um jogo!". Logo, não era diferente para o professor de inglês Paul Ashworth (Colin Firth), ou como provavelmente ele preferiria ser identificado, gooner Paul Ashworth. A adaptação do aclamadíssimo livro homônimo de Nick Hornby trata sobre a vida de Paul e não apenas sua devoção ao Arsenal Football Club, mas a maneira em que tudo em sua vida era sintetizado em futebol e suas emoções direta ou indiretamente associadas ao desempenho da equipe londrina.

"Depois de um tempo você passa a ficar confuso. Você não consegue lembrar se a vida é uma merda porque o Arsenal é uma merda ou se é o contrário"

  O filme intercala cenas da infância de Paul, onde o mesmo encontrou na paixão pelo Arsenal um elo com seu pai (divorciado de sua mãe), com cenas "atuais" do protagonista. Lógico, o desiludido professor não espera muito da vida e, se quer saber, a mensagem passada é que é "culpa" do até então conhecido como "Boring Arsenal". Pois uma vez que tudo o que ele vivia era uma espécie de reflexo do que acontecia dentro das quatro linhas do Highbury (na época, estádio dos Gunners), não se podia esperar muita coisa mesmo. Sem grandes perspectivas, ambições ou notáveis alegrias, tal como seu time, Paul segue sua apática vida... Isso até conhecer Sarah (Ruth Gemmell) e, na mesma temporada, acompanhar uma das melhores campanhas do Arsenal em anos! Sua vida ali mudaria... E ele mal sabia.

  Já dá para ter uma noção do conflito que se encaminha na trama? Paul, que até então não tinha preocupações maiores que "Qual a escalação hoje?" e não fazia planos maiores que "Quais os jogos fora de casa que assistirei nessa temporada?", tinha agora que abrir espaço para mais uma paixão em sua vida e com alguém que não fazia ideia do que é ser doente por futebol... Qualquer informação que vá além disso pode ser considerara um spoiler e, por conta disso, encerro aqui minha sinopse.

   Para qualquer amante do futebol, o grande trunfo do filme não é nem de longe a trama... Mas sim a capacidade de fazer com que o mesmo se sinta compreendido. A forma com que Paul conta o tempo não em anos, mas em temporadas. O ímpeto em entrar em debates longos sobre o esporte. O quão ridículo parece ponderar optar por algum outro programa em dia de jogo. A necessidade em ter conhecimento a respeito de cada fato sobre seu time... Sinto que tudo isso é como se alguém finalmente tivesse colocado um grande anúncio, para o mundo inteiro ver, avisando que NÃO é só um jogo, que NÃO importa se os jogadores não nos conhecem e estão ganhando seus milhões, que NÃO estamos tristes/desvatados por bobagem... Avisando que futebol importa... Que é parte do que somos e só tem alicerce para julgar isso quem vive.

  A obra de David Evans te faz refletir na seguinte questão: A tal "Febre de Bola" é uma dádiva ou uma doença? E para os que esperam uma resposta eu digo o que para os de dentro é mais que óbvio, mas para os de fora é absurdo: Os dois. Uma ingrata e maldita dádiva , uma bela e bendita doença.


NOTA : ★★★½
[ Fever Pitch / 1997 / David Evans ]  


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