Como Não Perder Essa Mulher: ★★★

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2 Comments

  Com um banho de água fria nas viúvas de Tom, o primeiro filme dirigido por Joseph Gordon-Levitt nos presenteia com muita autenticidade, entretenimento e originalidade. Interpretando um papel que é o extremo oposto ao do mocinho por ele interpretado em 500 Dias com Ela, Joseph sobrou no longa-metragem. Alvo de inúmeras críticas negativas, Don Jon não é o tipo de filme que se assiste como outro qualquer. É necessário um olhar bem mais atencioso e é disso que tentarei falar um pouco.


  A começar pelo título que é muito bem escolhido, pelo menos o original. “Don Jon” é mais que um simples apelido dado ao personagem Jon Martello Jr. A alcunha serve, na verdade, como uma ferramenta bem prática para rotular a necessidade compulsiva de Jon pelo sexo/sedução/prazer carnal em detrimento ao equilíbrio emocional e relacionamentos saudáveis... A tal Síndrome de Don Juan! Em função disso, considero muito válido citar que o título brasileiro “Como Não Perder Essa Mulher” dá uma idéia totalmente errada a respeito do foco do filme. Cria-se uma expectativa de um filme ao estilo “besteirol americano” quando, na verdade, trata-se de algo muito mais complexo que isso. Achei a escolha de muito mau gosto, o que, infelizmente, é típico em nossa realidade.

  Mergulhando em sua rotina (da qual tanto se orgulha), Jon deixa em evidência, cena após cena, suas falhas de caráter. Narcisismo, egocentrismo, perfeccionismo, ira, co-dependência emocional, avareza, hipocrisia são apenas algumas de suas amarras, mas nenhuma delas na mesma proporção tomada pela sua paixão pela pornografia. Tendo o hábito de confessar (sem aparente arrependimento) seus pecados em sua igreja com a única intenção de, através do mesmo hábito, barganhar seu perdão, Jon se prende a um sistema um tanto quanto “robótico” que consiste em quatro fases: Pecar -> Confessar -> Rezar Ave-Marias -> Fazer Tudo de novo. Ou seja, um “ciclo pecaminoso” sem fim proporcionado por uma compreensão equivocada do perdão e misericórdia divina. Também é possível perceber forte crítica ao modelo católico de confissão e penitência, e isso se evidencia ainda mais em uma cena onde o Padre é questionado a respeito dos critérios usados para definir o número de “ave-marias” a serem rezadas (e é até uma das cenas mais cômicas da película, haha).

  Apesar de não acreditar que a pornografia seja o foco do filme, admito que seja um dos pontos mais explorados da trama, afinal, é seu grande vício. E numa população onde a grande maioria dos homens partilha do mesmo vício/mau hábito é comum a identificação com o personagem, tal como a aversão das mulheres aflorada pelo protagonista. Por isso, acredito que os casais que desistem do filme já em seu início (por causa do excesso de conteúdo imoral explorado) acabam perdendo muito aprendizado importante que os aguardava no porvir/desenrolar do longa.

  Por fim, muito corajoso e prejudicado pela má escolha do título em português-br, Don Jon, com certeza, terá seu público bem específico. Com atuações excelentes também de Scarlett Johansson e Julianne Moore, classifico-o como um filme bem mais profundo do que aparenta quando assistido a olho nu. É necessário pôr a lente artístico-crítica para apreciá-lo da maneira certa! Essa é a resposta para a pergunta em destaque no título do post. Afinal... Não se julga um livro pelo prefácio, não se avalia um artista por uma única performance e, definitivamente, não se desiste de um filme pelos primeiros trinta minutos.


NOTA : ★★★
[ Don Jon / 2013 / Joseph Gordon-Levitt ]


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2 comentários:

  1. Como me sinto feliz em vê-lo escrevendo tão bem sobre filmes. Só recomendo tomar cuidado com o excesso de vírgulas, pois senão o texto fica muito travado...

    O melhor é ver que você começou escrevendo, coincidentemente ou não, sobre os filmes que vimos juntos no cinema... Temos gostos parecidos, e isso não é bom, é ótimo!

    Quanto ao filme, concordo em tudo que você disse. Lamento aqueles que desperdiçaram a oportunidade de verem um excelente filme, por se acharem muito puritanos... Não vejo a hora de ter a oportunidade de ver o filme com os irmãos de pequeno grupo.

    Segue meus comentários sobre Don Jon: http://renovoblog.blogspot.com.br/2013/12/filme-como-nao-perder-essa-mulher-don.html

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  2. Mas as pontuações estão corretas, as pessoas que não tem o costume de ler, e estranham.

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